Em busca de um destino calmo e perto de São Paulo para o Ano Novo de 2018/2019 escolhemos Campos do Jordão para juntar o grupo de amigos com a criançada e confraternizar, mas o motivo principal da escolha era que a cidade fazia parte de uma rota de bike que queríamos fazer. Desta maneira, nos organizamos para percorrer um trecho do Caminho da Fé, entre Minas e SP.
O caminho original começa em Tambaú (na realidade tem vários ramais) e termina em Aparecida (419km), mas como só dispúnhamos de 4 dias para percorre-lo resolvemos fazer o trecho entre Ouro Fino e Aparecida, totalizando 245km de muita subida!
Para organizar a logística da cicloviagem, montamos um esquema onde as crianças nos encontrariam somente no dia 3, já em Campos de Jordão onde montamos nossa base. De mochila nas costas, no dia 25 de Dezembro, seguimos rumo a rodoviária do Tietê em São Paulo, colocamos as bikes no bagageiro do ônibus e fomos para Ouro Fino.
Dia 1 – Ouro Fino -> Estiva | 72km | <2.000m de subida
Partimos de Ouro Fino cedo em uma manhã úmida, tiramos a clássica foto na igreja e começamos a rodar. Os primeiros 20kms passaram rápido e tive a esperança que não seria tão puxado como eu tinha ouvido, mas não bastou muito para ver que eu estava um pouco enganada. As subidas começaram e pareciam sem fim, assim como a chuva fraca que não deu trégua e me fez gastar muita energia para manter a temperatura corpórea durante as 11hrs que demoramos entre as duas cidades. Ao longo do dia não pude deixar de observar o sorriso no meu rosto e a sensação de bem estar que o contexto estava me proporcionando. Levar seu corpo ao limite, respirar ar puro, contemplar o silêncio e a bucólica paisagem te levam a uma meditação em movimento, sua mente e seu corpo ficam absortos na experiência de simplesmente seguir em frente. Suas forças focada para manter a bike no rumo e apenas uma troca de roupa seca na mochila para te esquentar ao final do dia nos fazer perceber que precisamos de muito pouco para atingir a felicidade.
Pousada Brasil Colonial – Ouro Fino
Dia 2 – Estiva -> Morro do Canta Galo | 66km | <1.600m ascensão
Acordei quebrada, não queria levantar da cama. Meus músculos gritavam por uma trégua. Subi na bike e no primeiro momento achei que seria impossível seguir. Além das dores musculares, meu joelho tinha inflamado e eu mau conseguia pedalar no plano, quanto mais nos morro que haveriam pela frente. Neste momento o Marcelo me deu a maior força, sempre com uma mãozinha nas costas ou empurrando minha bike montanha acima. Depois de 20kms chegamos na cidade de Consolação e percebi que não aguentaria os 46km seguintes. Estávamos em 4, eu, Má, Tati e Wii. A Tati também resolveu não fazer o restante do trecho deste dia, os meninos até tentaram nos reanimar e convencer de tocar em frente, mas sabia que deveria respeitar meu corpo. Para nossa sorte tínhamos um amigo que estava em São Bento do Sapucaí com a ideia de se juntar ao grupo no dia seguinte. Pedimos um resgate e ele foi querido em nos buscar em Consolação e nos levar ao Morro do Cantagalo, mas antes, paramos em São Bento para um almoço e no Oliq para comprar azeite (é um olival bem charmosinho no meio do nada a poucos kms do nosso destino). Quando chegamos no Cantagalo ainda houve tempo para um brinde e boa conversa no bar do Gato. Olhando em retrospectiva, poupar meu corpo foi fundamental para concluir o pedal do dia 3.
Hotel Fazenda Vale Verde – Estiva
Dia 3 – Morro do Canta Galo -> Campos do Jordão | 62km | <1.600m ascensão
Dormir no bairro do Canta Galo é uma experiência que deve ser colocada no trajeto. Com apenas poucas casas, fomos recebidos na hospedaria do Galo com muito carinho, onde tivemos nossa roupa lavada, um jantar mineiro farto e café da manhã. Tudo realizado com muita simplicidade e amor pelos queridos proprietários. Foram 10km até Luminosa, uma cidadezinha idílica cercada por árvores encravada entre as montanhas de Minas e SP. A manhã estava gelada, mas seca. Fomos contemplados com um downhill delicioso até a praça central da cidade. De lá, preparamos nossas pernas e começamos a subir. O Leandro (nosso resgate) que saiu pedalando de São Bento nos encontrou neste momento e compartilhou conosco a subida infinita até Campista. Neste dia minha mente estava focada e meu corpo respondeu a altura, estava me sentindo bem, fiz muito esforço, fiquei cansada, mas no final a sensação de satisfação foi enorme e ao me encontrar com os meninos (Cauê e Teco) em Campos do Jordão foi impossível segurar as lágrimas de emoção e felicidade pelo simples fato de ter conseguido chegar ali.
Pousada do Galo – Morro do Canta Galo
Dia 4 – Campos do Jordão -> Aparecida | 72km | um grande Downhill
Como mencionei anteriormente Campos do Jordão foi nossa base para o Ano Novo, estávamos em 6 casais e 9 crianças. Alugamos uma grande casa para comportar todos e a energia não poderia ter sido melhor. Adultos e crianças em grande sintonia, fez nossa passagem de ano ser especial. Para terminar 2018 com chave de ouro fizemos o trecho final de Campos até Aparecida. Na realidade, eu preferi curtir o descanso e nossos pequenos enquanto o Marcelo e mais 2 amigos seguiram pelo downhill completando assim o trecho final do caminho. Em Aparecida o Má, Leandro e Betones encontraram nossa amiga Nessa que os trouxe de volta a Campos.
Fazer uma cicloviagem traz outros horizontes para sua vida, além de te levar para momentos de reflexões e autoconhecimento, a sensação de sair somente com uma bicicleta e o mínimo de bagagem é libertador. Experimente!
Dicas sobre o Caminho da Fé: O caminho é inteiro sinalizado com setas amarelas, em toda encruzilhada você encontra uma. Ao longo da rota pequenos estabelecimentos familiares estão preparados para receber os peregrinos, sendo gentis e nos trazendo conforto sempre com muita simpatia e simplicidade. No site do caminho você consegue encontrar diversas informações sobre hospedagem, distâncias e altimetrias. Uma boa dica é imprimir os perfis com as informações de distância x altimetria de cada trecho que você irá percorrer.
Agradecemos a turma Outzone por mais um momento memorável em nossas vidas, aos amigos que organizaram a logística para que nossos pequenos e carro chegassem em Campos e ao vovô e a vovó que seguraram a onda com o Cauê e Teco para podermos nos jogar pelo mar de montanhas entre Minas e SP.
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